"Yes Prime Minister" foi uma sequela da série televisiva cómica inglesa "Yes Minister", exibida pela primeira vez a 25 de Fevereiro de 1980 na BBC. Jim Hacker, o primeiro-ministro da série, vivia obcecado em manter a sua popularidade entre os eleitores, ao mesmo tempo que pretendia inscrever o seu nome na história como um grande estadista.
Umas das personagens chave desta série é Sir Humphrey Appleby, o seu chefe de gabinete. Sir Humphrey tinha uma máxima, que nunca mais esqueci, e que hoje assenta como uma luva no nosso primeiro-ministro José Sócrates: «em política, nunca se deve acreditar em nada enquanto não for desmentido oficialmente». Ou seja, segundo Sir Humphrey, uma pessoa só deve acreditar, por exemplo, na subida dos impostos quando o primeiro-ministro ou o governo vierem desmentir oficialmente.
Agora vejam lá se esta regra não é seguida à risca pelo nosso primeiro-ministro: (1) «A economia portuguesa foi das primeiras da UE a sair da recessão técnica» (na SIC - 22/2/1010); (2) «O desejo do Governo é que não se aumentem impostos na legislatura e consigamos ter essa perspectiva até 2013. É a nossa orientação» (na AR - 15/1/2010); (3) «As pessoas que fazem as suas deduções na Educação, na Saúde e nos PPR não são ricas. É a classe média. A eliminação das deduções conduziria a um aumento fiscal brutal para a classe média» (no debate com Louçã - 8/9/2009); (4) «A crise deve levar-nos a fazer investimento e não o contrário. É mais uma razão para o fazermos. É, neste momento, que o país precisa de investimento» (na adjudicação do troço Poceirão-Caia - 2/12/2009); (5) «É um imperativo moral ajudar a criar emprego» (na cerimónia de requalificação da EN 125 - 25/5/2009).
Existe, no entanto, uma grande diferença entre a série inglesa e o nosso primeiro-ministro: é que a série inglesa gozava com os políticos e José Sócrates goza com todos nós.
Fuga em Frente: desastre certo Os meios de comunicação internacionais têm Portugal na mira. O que só pode querer dizer más notícias. Não vale a pena reclamar com algumas idiotices: sair do euro, bacarrota pela certa, etc. Neste jogo temos que saber que o mundo não vem analisar a situação portuguesa com todas as suas nuances e particularidades. O que o mundo vê é um Governo que continua a actuar como se nada tivesse acontecido e a anunciar subsídios, subidas de salários a carreiras especiais, grandes projectos e coisas de megalómanos. Esta fuga em frente mais do que desculpa alguma asneira dita, e nem todas o são. Mas a asneira dita e escrita num jornal internacional de grande difusão vale todos os discursos deste Governo. A ele ninguém o ouve dentro de portas, quanto mais nos jornais internacionais. Portugal está novamente com spreads a baterem records e CDS mais caros que nunca. Ou seja, por boas ou más razões, o risco Portugal está a subir muito rapidamente. E o Governo ignora tudo e tem como estratégia a fuga em frente. Quem são e onde estão os conselheiros do Governo?
Até ao colapso final Corromperam e infiltraram, os governos "liberais". Acumularam dinheiro, de toda a forma e feitio: Especularam. Especularam com a especulação. Foram financiados pelo Estado. Privatizaram e adquiriram os monopólios. Atribuíram-se isenções. Criaram offshores, para melhor fugir aos impostos.
Controlam os controles do Estado, fiscalizam-se a eles próprios. Patrões do lacaio Constâncio, são donos do Banco nacional. Legalizaram a roubalheira, e são donos de Portugal.
Quando acumularam mais dinheiro, do que riquezas há no mundo; quando deixaram de poder cumprir os compromissos, com dinheiro virtual; quando a banha (da cobra) deixou de render; ... em vez de falir, pagar o que roubaram, e ir para a cadeia, ... decretaram crise financeira mundial, passaram o prejuízo para o Estado, e continuam a roubar.
O Governo injectou milhões na banca. Comprou caro, e privatizou barato. Nacionalizou prejuízos, privatizou os nossos impostos e o nosso património, desvalorizou os nossos bens.
Agora, dizem que estamos falidos, que estamos devedores! Aos próprios gatunos!
O dinheiro que já pagámos, vão emprestar-nos outra vez. Para voltarmos a pagar, e voltarmos a pedir emprestado. Até ao colapso final
Num dos episódios da série "Sim, sr. Ministro", Sir Humphrey diz ao sempre diletante Jim Hacker: "O povo não sabe nada sobre o desperdício do dinheiro do Estado, nós somos os especialistas". É verdade: em Portugal sucessivos Governos, nas últimas centenas de anos, tornaram-se verdadeiros profissionais do desperdício. Cíclicas crises financeiras, que como na monarquia Constitucional e na I República apressaram o fim do regime, nunca serviram de lição. A pimenta da Índia, o ouro do Brasil ou o dinheiro da Europa sempre foram o botox das nossas rugas. A revolução industrial chegou tarde a Portugal e só a deixámos quando começámos a perceber que os salários baixos já não eram competitivos na Europa. Quando Thatcher chegou ao poder e o fim da indústria tradicional anunciava a chegada da economia financeira global, ainda estávamos a discutir desnacionalizações. Andamos sempre atrás dos ponteiros do relógio. E continuamos a não entender o óbvio. Se no século XIX um dos membros da família Rothschild dizia que as obrigações portuguesas eram "shit", agora o Presidente checo diz em voz alta que andamos a brincar com o défice. Fingimos que não é nada connosco e insistimos no que somos bons: damos um jeitinho. Portugal, é claro, está cheio de especialistas. A desperdiçar oportunidades. E a torrar dinheiro. E a fazer "PEC's" por encomenda. Por isso a questão não é menos Estado a todo o custo, mas melhor Estado. O problema é simples: o Estado português tornou-se um cogumelo alucinogénico. E há demasiada gente a inalar os seus aromas.
4 comentários:
"Yes Prime Minister" foi uma sequela da série televisiva cómica inglesa "Yes Minister", exibida pela primeira vez a 25 de Fevereiro de 1980 na BBC. Jim Hacker, o primeiro-ministro da série, vivia obcecado em manter a sua popularidade entre os eleitores, ao mesmo tempo que pretendia inscrever o seu nome na história como um grande estadista.
Umas das personagens chave desta série é Sir Humphrey Appleby, o seu chefe de gabinete. Sir Humphrey tinha uma máxima, que nunca mais esqueci, e que hoje assenta como uma luva no nosso primeiro-ministro José Sócrates: «em política, nunca se deve acreditar em nada enquanto não for desmentido oficialmente». Ou seja, segundo Sir Humphrey, uma pessoa só deve acreditar, por exemplo, na subida dos impostos quando o primeiro-ministro ou o governo vierem desmentir oficialmente.
Agora vejam lá se esta regra não é seguida à risca pelo nosso primeiro-ministro: (1) «A economia portuguesa foi das primeiras da UE a sair da recessão técnica» (na SIC - 22/2/1010); (2) «O desejo do Governo é que não se aumentem impostos na legislatura e consigamos ter essa perspectiva até 2013. É a nossa orientação» (na AR - 15/1/2010); (3) «As pessoas que fazem as suas deduções na Educação, na Saúde e nos PPR não são ricas. É a classe média. A eliminação das deduções conduziria a um aumento fiscal brutal para a classe média» (no debate com Louçã - 8/9/2009); (4) «A crise deve levar-nos a fazer investimento e não o contrário. É mais uma razão para o fazermos. É, neste momento, que o país precisa de investimento» (na adjudicação do troço Poceirão-Caia - 2/12/2009); (5) «É um imperativo moral ajudar a criar emprego» (na cerimónia de requalificação da EN 125 - 25/5/2009).
Existe, no entanto, uma grande diferença entre a série inglesa e o nosso primeiro-ministro: é que a série inglesa gozava com os políticos e José Sócrates goza com todos nós.
Fuga em Frente: desastre certo
Os meios de comunicação internacionais têm Portugal na mira. O que só pode querer dizer más notícias.
Não vale a pena reclamar com algumas idiotices: sair do euro, bacarrota pela certa, etc. Neste jogo temos que saber que o mundo não vem analisar a situação portuguesa com todas as suas nuances e particularidades.
O que o mundo vê é um Governo que continua a actuar como se nada tivesse acontecido e a anunciar subsídios, subidas de salários a carreiras especiais, grandes projectos e coisas de megalómanos. Esta fuga em frente mais do que desculpa alguma asneira dita, e nem todas o são. Mas a asneira dita e escrita num jornal internacional de grande difusão vale todos os discursos deste Governo. A ele ninguém o ouve dentro de portas, quanto mais nos jornais internacionais. Portugal está novamente com spreads a baterem records e CDS mais caros que nunca. Ou seja, por boas ou más razões, o risco Portugal está a subir muito rapidamente. E o Governo ignora tudo e tem como estratégia a fuga em frente.
Quem são e onde estão os conselheiros do Governo?
Até ao colapso final
Corromperam e infiltraram,
os governos "liberais".
Acumularam dinheiro,
de toda a forma e feitio:
Especularam.
Especularam com a especulação.
Foram financiados pelo Estado.
Privatizaram e adquiriram os monopólios.
Atribuíram-se isenções.
Criaram offshores,
para melhor fugir aos impostos.
Controlam os controles do Estado,
fiscalizam-se a eles próprios.
Patrões do lacaio Constâncio,
são donos do Banco nacional.
Legalizaram a roubalheira,
e são donos de Portugal.
Quando acumularam mais dinheiro,
do que riquezas há no mundo;
quando deixaram de poder cumprir os compromissos,
com dinheiro virtual;
quando a banha (da cobra) deixou de render;
...
em vez de falir,
pagar o que roubaram,
e ir para a cadeia,
...
decretaram crise financeira mundial,
passaram o prejuízo para o Estado,
e continuam a roubar.
O Governo injectou milhões na banca.
Comprou caro, e privatizou barato.
Nacionalizou prejuízos,
privatizou os nossos impostos
e o nosso património,
desvalorizou os nossos bens.
Agora, dizem que estamos falidos,
que estamos devedores!
Aos próprios gatunos!
O dinheiro que já pagámos,
vão emprestar-nos outra vez.
Para voltarmos a pagar,
e voltarmos a pedir emprestado.
Até ao colapso final
Num dos episódios da série "Sim, sr. Ministro", Sir Humphrey diz ao sempre diletante Jim Hacker: "O povo não sabe nada sobre o desperdício do dinheiro do Estado, nós somos os especialistas". É verdade: em Portugal sucessivos Governos, nas últimas centenas de anos, tornaram-se verdadeiros profissionais do desperdício. Cíclicas crises financeiras, que como na monarquia Constitucional e na I República apressaram o fim do regime, nunca serviram de lição. A pimenta da Índia, o ouro do Brasil ou o dinheiro da Europa sempre foram o botox das nossas rugas. A revolução industrial chegou tarde a Portugal e só a deixámos quando começámos a perceber que os salários baixos já não eram competitivos na Europa. Quando Thatcher chegou ao poder e o fim da indústria tradicional anunciava a chegada da economia financeira global, ainda estávamos a discutir desnacionalizações. Andamos sempre atrás dos ponteiros do relógio. E continuamos a não entender o óbvio. Se no século XIX um dos membros da família Rothschild dizia que as obrigações portuguesas eram "shit", agora o Presidente checo diz em voz alta que andamos a brincar com o défice. Fingimos que não é nada connosco e insistimos no que somos bons: damos um jeitinho. Portugal, é claro, está cheio de especialistas. A desperdiçar oportunidades. E a torrar dinheiro. E a fazer "PEC's" por encomenda. Por isso a questão não é menos Estado a todo o custo, mas melhor Estado. O problema é simples: o Estado português tornou-se um cogumelo alucinogénico. E há demasiada gente a inalar os seus aromas.
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